Por Luiz Carlos Amorim - Escritor,
editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 35 anos
de trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br
Florianópolis
tem o Projeto Floripa Letrada, que consiste em estantes nos terminais de
ônibus, onde são disponibilizados livros, revistas e apostilas. A proposta é
que os usuários dos ônibus urbanos levem os livros para ler e depois devolvam,
para que outras pessoas possam fazer o mesmo, mas aqueles que devolvem são
muito, muito poucos.
O projeto
existe e persiste graças a doações de empresas e pessoas físicas e, como disse
acima, nos últimos anos o forte do que era oferecido nas estantes eram as
apostilas didáticas ou técnicas, novas ou usadas. Algumas defasadas, mas outras
em perfeito estado para serem usadas. Eu até peguei uma apostila de inglês e
outras de matemática e as usei.
Mas há
algumas semanas, a gente tem encontrado livros literários mais frequentemente
e em maior quantidade nas estantes do Floripa Letrada. Livros antigos, mas
obras importantes de autores consagrados, como Mário de Andrade, Monteiro Lobato,
Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Pedro Bandeira, Salim
Miguel, Sérgio da Costa Ramos, Pedro Block, Dostoievski e tantos outros.
Pelo
carimbo que tem em todos os livros, fica-se sabendo que os livros eram da
biblioteca de um grande colégio da capital, tradicional e ainda elitista. É
interessante que no tal carimbo consta o nome do colégio e a esclarecedora
observação: “Baixa de acervo”.
Acho ótimo
que disponibilizem obras de qualidade para a leitura dos usuários do transporte
público, pois temos a oportunidade de ler bons livros sem ter que pagar nada,
mas fico pensando aqui com meus botões: a boa literatura fica velha? Nunca vi uma escola se desfazer do acervo de
sua biblioteca assim, descartando todos os livros publicados há mais de uma
década, como se não servissem mais para os seus alunos, como se estivessem
completamente defasados para aquela escola.
Já vi,
infelizmente, uma escola de uma cidade vizinha jogar fora – jogar no lixo,
mesmo -, livros didáticos novos. O diretor foi despedido. Mas descartar livros
de uma biblioteca por serem velhos, é novidade. O livro pode até ficar velho,
mas a obra, não. Será que a escola só queria abrir espaço, nas suas
dependências, para outra atividade? Eu poderia dizer que fizeram bem porque os
livros seriam lidos novamente por vários leitores, cada um daqueles volumes
descartados, mas como mencionei acima, o propósito de ler e devolver ao projeto
Floripa Letrada não é cumprido. Então os estudantes que se renovam a cada ano,
na escola que cedeu os livros, poderiam ler e recriar a escritura de tantos
autores muito mais vezes. De qualquer maneira, eles terão, espero, livros mais
contemporâneos para ler. E nós, cá de fora, teremos as obras que foram
publicadas há mais tempo, graciosamente. Menos mau.
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