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sábado, 13 de agosto de 2011

PAIS & FILHOS

   Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

Minhas filhas já estão adultas e não trocaria a ventura de tê-las tido por absolutamente nada neste mundo. Pareceu-me fácil criar minhas meninas, cuidar delas, educá-las, tentar prepará-las para a vida. Presunção? Não, acho que não. Acho que é porque elas me deram muito mais do que eu dei a elas. Estou no lucro, devo estar em dívida com elas, pois penso que elas me deram muito mais carinho do que eu dei a elas, elas me ensinaram muito mais do que eu poderia repassar a elas. Elas me mostraram uma capacidade de amar bem maior do que pensava ter.


Então esperei ter também um menino, para saber se havia diferença entre o privilégio de conviver, de educar e de aprender com minhas meninas e criar um garoto. Era um desafio: poderia haver diferença? Em quê? Infelizmente, não pudemos, eu e Stela, tirar essa dúvida. Tivemos três meninas, então desistimos, não porque não quiséssemos meninas, se elas viessem, mas porque poderíamos dar tanto menos quanto maior fosse o número de filhos que tivéssemos. E há que se poder dar o mínimo necessário para que os filhos cresçam com dignidade, senão, melhor é não tê-los.

Pensamos até em adotar um menino, mas o tempo foi passando e acabamos desistindo da idéia, pois achamos que nossa idade já não comportava mais uma responsabilidade tão grande, já não tínhamos mais aquela vitalidade de quando nossas meninas chegaram, já tínhamos perdido o jeito. Será que encontraríamos a paciência e a dedicação, a experiência já longe, para oferecer a um novo bebê?

Então, um belo dia, soubemos que Gabriel entraria em nossas vidas. Não iríamos adotá-lo, não. Minha cunhada estava esperando o primeiro filho e logo soube que era menino. E minha esposa ajudaria a cuidar dele, enquanto e mãe estivesse trabalhando. Agora sabemos que nós, a família toda, cuidaríamos de Gabriel.

É fantástico como o ser humano pode se reciclar. Gabriel está nos mostrando isso com uma clareza inquestionável. Fico maravilhado em ver como uma criança pode restaurar em nós, independentemente de qualquer que seja a nossa idade, a alegria de viver e a perspectiva de tempos mais felizes.

Gabriel faz com que me sinta muito mais jovem, fez com que eu passasse a sorrir e a rir muito mais do que antes. Ele faz com que eu me sinta um pouco criança, quando me vejo a brincar com ele, rir com ele, crescer com ele. Fazia tempo que não exercitava aquela cara boba de feliz a falar palavras truncadas que ele parece entender. Fazia tempo que não rolava no chão, fazia caretas e ruídos estranhos para vê-lo dar gargalhadas.

Agradeço por cada segundo desse retorno no tempo. É bom brincar de ser pai de novo, mesmo que seja de mentirinha. Desenvelheci.

Até fiz as pazes com meu pai, com quem não tive uma relação muito boa, infelizmente. Ele já não está mais aqui para eu lhe dizer isso, mas acho que saberá.

Meu pai talvez não tenha sido tão pai quanto eu desejaria que ele tivesse sido, mas é possível que isso tenha servido para alguma coisa, pois procurei ser um pai melhor para minhas filhas. Não sei se consegui, mas o fato é que tenho filhas maravilhosas.

Na época em que eu era criança, as coisas eram bem diferentes de hoje, a maneira de educar os filhos era diferente, mas a verdade é que eu tinha medo de meu pai. E quando eu cresci e saí de casa, não tive motivos para me aproximar dele, embora até mantivéssemos uma política de boa vizinhança, pois estávamos relativamente longe um do outro e nos encontrávamos muito pouco.

Sinto falta, ainda hoje, de um pai mais presente na minha vida. Talvez ele não tenha sabido ser um bom pai e eu, também, não tenha conseguido ser um filho melhor, tentando me aproximar mais, mesmo na idade adulta, para que pudéssemos ser mais amigos.

Conclamo todos os filhos - e todos nós somos - a dar um pouco mais de atenção e carinho a seus pais, mesmo que eles relutem em receber. E a todos os pais, também, a perceber o carinho vindo dos filhos e, principalmente, conclamo-os a retribuir, por mais sutil que isso tenha que ser.

Um comentário:

  1. Amorim preciso repetir sempre, como é bom conhecer gente que transforma a vida em poesia. E voce é assim. Parabéns por ser o papai coruja que é! Parabéns por crescer junto com Gabriel. De fato você citou algo necessário que a gente as vezes esquece, a nossa capaciodade de reciclagem.Stela:parabéns por incentivar o poeta!Abraços daqui. Fatima/Laguna

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