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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A SITUAÇÃO DO ESCRITOR BRASILEIRO

Hoje não vou escrever nada. Vou apenas transcrever um artigo da minha amiga Teresinka Pereira, brasileira radicada nos Estados Unidos, professora universitária e presidente da IWA - International Writers and Artistis Association:

CARTA RESPOSTA A LUIZ C. AMORIM PELO ARTIGO “A SITUAÇÃO DO ESCRITOR PRASILEIRO”

Por Teresinka Pereira (Presidente da International Writers Association – USA)

Li por acaso, porque fomos publicados lado a lado no jornal O DIA do Piauí, mas com muita atenção, o seu artigo “A Situação do Escritor Brasileiro”. Você tem muita razão em tudo o que diz ali: todos os escritores do mundo dizem a mesma coisa, que o único espaço acessível ao escritor moderno é a internet. Eu creio que nos encontros de escritores nós devíamos fazer alguma coisa mais produtiva do que reclamar.
Temos que encontrar uma saída para a crise de espaços. Os editores de revistas, jornais e até de alternativos (e você é um bom exemplo) merecem nosso aplauso, nosso agradecimento e nossa admiração, porque sacrificam seus recursos econômicos, seu tempo e suas energias criativas para fazê-lo, pois em vez de estar escrevendo sua própria obra, estão ajudando aos outros escritores a divulgar a deles. Felizmente, quase todos os amigos publicados por esses meios, reconhecem e mandam umas palavras agradecendo.
Li em uma revista que, segundo editores franceses, de acordo com a realidade do sarcozismo, a cultura da paz e humanitarismo não são temas de lucro comercial, quer dizer, não vendem. Todo o mundo saiu a criticar os editores e a Nicolas Sarkozy, que representa essa mentalidade de que o lucro comercial é a nossa salvação, idéia clonada da Wall Street americana. Talvez o povo francês, o que trabalha, anda pela rua, compra e vende, já esteja cansado de ser modelo literário e cultural do mundo e queira encher os bolsos de euros em vez de livros que não tem tempo de ler. E o resto do mundo vai na mesma onda. E temos que considerar que a recessão econômica vai ensinar que barriga vazia pode inspirar a um poeta ou a um filósofo, mas não deixa ninguém com vontade de ler. E o que acontece quando o leitor não acha que o livro valeu o preço que pagou por ele? Pois o que você mesmo diz em seu artigo é verdade: “Consta que, apesar da dificuldade de se publicar livros, o número de escritores aumenta cada vez mais, ainda que a qualidade de uma grande parte seja discutível”.
Pois o que acontece é isso: uma decepção. A gente compra um livro e depois verifica que o mesmo não corresponde a nossa expectativa. Temos que recordar que o livro é considerado quase que como um objeto sagrado para os bibliófilos como eu. O lugar mais importante da minha casa e da IWA (International Writers Association) é a biblioteca.
Ninguém tem o direito de ir lá e procurar livros sem o meu consentimento e tem que fazê-lo sob minha vigilância. Portanto, temos que esperar que o livro mereça esta estimação. O escritor venezuelano Victor Bravo diz com certeza: “O livro é um âmbito de cultura, mais que um meio para um fim. Esse âmbito é uma das conquistas mais valiosas da humanidade.”
Mas não é necessário ir ao estrangeiro para buscar elogios ao livro por excelência e como objeto de saber. O escritor brasileiro Cyro Armando Catta Preta escreveu esta quadra sobre o livro: “O livro é teu grande amigo / o braço que ajuda e ampara. / É alimento, é vinho, é trigo, / colhidos em messe rara...”
Quero contribuir com essa investigação de como resolver o problema da publicação das obras literárias botando minha colher de pau na panela. Temos que considerar que os editores não são os únicos culpados, embora eles sejam os primeiros a receber o xingatório por serem comerciantes interessados somente no lucro de venda da nossa criatividade e sacrifício. E olhando por esse mesmo lado, os consumistas também são culpados, porque em vez de comprarem um livro ou uma revista literária para ler um novo escritor ou um poeta ainda não consagrado, não arrisca seu pequeno investimento circunstancial e prefere comprar ou um desses livros de ajuda psicológica ou social, que os vai ensinar como se comportar ou como pensar positivamente para serem bem sucedidos na vida. Ou pior ainda, compram uma revista pornográfica que vai mais diretamente ao ponto da diversão, ou um livro de autor já conhecido para aumentar o seu conhecimento lítero-cultural.
Portanto, se os editores são tão difíceis de convencer, vamos tentar convencer aos prováveis compradores de livros de que o nosso livro representa a melhor e mais vantajosa compra que ele vai fazer. As vezes uma capa mais colorida e chamativa pode fazer o truque, às vezes o título, às vezes a publicidade no lançamento. Mas para lançar um livro, temos que publicá-lo, imprimi-lo primeiro. E se não conseguimos convencer um editor ou uma cooperativa, vamos ter que pagar pela edição nós mesmos. Nisso sou toda a favor! Os grandes escritores do presente e do passado, os que ficaram na história da literatura fizeram isso ao começar a se expor ao gosto do público. Podem investigar que vão achar que as primeiras edições foram pagas pelo autor. E como gastar tanto dinheiro para fazer a edição por conta própria, se um livro editado custa quase o mesmo que um carro, uma viagem ao estrangeiro? Pode custar menos! Portanto, pague-se o livro e que espere o carro, a viagem. Estas coisas terão mais valor quando nosso livro for bem recebido, bem reconhecido. Mesmo que não seja possível jamais realizar o sonho do carro ou da viagem, vamos fazer companhia aos milhões de poetas ou escritores pobres desse mundo... mas o mais certo é que o livro vai nos ajudar a encontrar um emprego de professor, de jornalista, de empregado público, se para isto tivermos também diplomas e capacidade. O livro vai abrir muitas portas no mundo intelectual, que é o nosso mundo e o único que queremos: o livro publicado pode ser nosso melhor investimento para o futuro. Mas...
O livro que publicarmos terá que ser excelente! Tem que ser uma estréia para dar o que falar, para ser resenhado, para ser lido pelos críticos literários e professores, os quais, naturalmente devem receber o livro como um presente. Se esses leitores escolhidos não gostarem do livro ou acharem que o livro não apresenta nenhuma novidade, que o autor está chovendo no molhado, que foi tudo uma perda de tempo, eles provavelmente não vão fazer muitos comentários favoráveis e vai faltar publicidade. E pior do que tudo, os leitores que pagaram pelo livro podem pensar que o escritor fez uma falta ecológica por ter gastado papel.
Portanto, cabe ao escritor, inclusive ao poeta, encontrar a solução para o problema do espaço viável para se expor à crítica, a qual determinará se vai à consagração ou ao esquecimento. E lembramos que, como criadores literários, devemos ir não pelo caminho já trilhado antes, que surte mais efeito e talvez dê bom resultado, mas por uma paisagem nova, por um lugar aonde ninguém passou ainda e deixar um novo caminho descoberto.
Obrigada pela inspiração, companheiro Luiz Carlos Amorim. Valeu.

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